Palavra à solta
Sou construída de palavras
De todo tipo que você possa imaginar
Palavras eruditas, palavras radicais, aquelas gírias essenciais, palavras finas e gordas, palavrões ou monossílabos,
Até mesmo o silêncio, que é a palavra que nunca sai
Caseiro que só ele, fica em casa trancado
Paz e amor, rapaziada!
Mas agora não me vem a palavra
Escapou-me a safada
Você sabe qual é?
Não consigo lembrar
Ela fugiu da minha língua e ainda deu uma mordida
Pouco antes de ser usada da minha coleção
Fez suas malas apressada e se mandou por aí
Deve ter ido pelas entrelinhas, pelo que a conheço bem
Talvez eu ainda a alcance
Só me resta rezar as orações subordinadas
Buscando explicações dessa ida repentina
Não deixou nenhum contato
Nem sei mais sua pronúncia
Em meu peito está você
Ó flor de lótus das letras minhas
Mais bela não há...
E de tanto te esperar renascer em mim
Eu te perdi e não a reconheci em outras bocas
Que ousaram falar-te
Foi-se, então, uma palavra a menos
Um significado a menos
Menos eu em mim mesma
Palavra à solta,
Fico eu prisioneira.