Como criar um mal-entendido

Não é preciso muito

Bastam dois seres com umbigo

Podem ser amigos, melhores amigos

Ou meros desconhecidos...

O que passa na cabeça de um

Na do outro é um universo sem sentido

E quando menos esperam

São duas histórias paralelas

Paradoxalmente, pertencentes ao mesmo risco

Mas o pior nem é isso

- tendo ou não motivo,

Se tornarem inimigos -

É que na verdade carregam

dois meninos lá dentro,

lá dentro...

Já de antemão ofendidos

Em cada um, um menino machucado,

ferido

Se ao menos um deles apurasse o ouvido...

Oferecesse um doce, um abrigo

– pois um colo é só o que é preciso

Para o outro se fazer derretido...

Assim, talvez, deixasse de lado o escudo

e visse que não há perigo,

não há ameaça alguma

para ser assim arisco

Quando ambos olham na mesma direção,

é mais fácil ver solução

pois não há nenhum crivo subjetivo

E, depois,

cada um segue seu rumo

cada qual no seu destino

Pra que, então, essa conversa desconexa,

em gritos?

Tanta perda de tempo, e mais a perda da alma

Ambos saem vencidos

Ainda mais feridos

E ao fundo aquela criança,

que deveria ser de riso,

destroçada

Tudo por causa de um único equívoco:

Não desfazer o equívoco

Que pena.

Sal Maciel
Enviado por Sal Maciel em 02/12/2021
Código do texto: T7398722
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