Como criar um mal-entendido
Não é preciso muito
Bastam dois seres com umbigo
Podem ser amigos, melhores amigos
Ou meros desconhecidos...
O que passa na cabeça de um
Na do outro é um universo sem sentido
E quando menos esperam
São duas histórias paralelas
Paradoxalmente, pertencentes ao mesmo risco
Mas o pior nem é isso
- tendo ou não motivo,
Se tornarem inimigos -
É que na verdade carregam
dois meninos lá dentro,
lá dentro...
Já de antemão ofendidos
Em cada um, um menino machucado,
ferido
Se ao menos um deles apurasse o ouvido...
Oferecesse um doce, um abrigo
– pois um colo é só o que é preciso
Para o outro se fazer derretido...
Assim, talvez, deixasse de lado o escudo
e visse que não há perigo,
não há ameaça alguma
para ser assim arisco
Quando ambos olham na mesma direção,
é mais fácil ver solução
pois não há nenhum crivo subjetivo
E, depois,
cada um segue seu rumo
cada qual no seu destino
Pra que, então, essa conversa desconexa,
em gritos?
Tanta perda de tempo, e mais a perda da alma
Ambos saem vencidos
Ainda mais feridos
E ao fundo aquela criança,
que deveria ser de riso,
destroçada
Tudo por causa de um único equívoco:
Não desfazer o equívoco
Que pena.