Porta do Sofrimento
Abri a porta do sofrimento.
Aquém carrego: carregarei o meu eu que não sofre,
mas, sofro por consciência do que serei,
não o que sou... matéria orgânica de impureza(?)
Saio para fora do apartamento,
e vejo o tráfico, sua natureza cinza.
Escuto enxovalhos que se cruzam e gozam...
Me despeço da curva do quarteirão de Bela Vista, por algum motivo admiro-a...
Desvio o olhar para o meu eu, o riso mal estruturado se organiza,
sinto como o pano sujo que dança pelo salão do restaurante de Estrela.
Devoro-me de incertezas, logo, sinto-me satisfeito.
E a certeza... em que hei de dizer?
tão bem elaborada: como pode ser tão própria? Tão exclusiva?
Ah..., talvez, resumidamente a certeza é a fórmula para a insanidade,
ou qualquer motivo para loucura.
Sento no banco e descanso...
"Tantos que aqui sentaram...,
tantos que são tão limitados intelectualmente,
a ponto de ver o mundo com os olhos adultos,
sem infantilidade sequer! Sem infantilidade!
Sim... Sem o brilho cognitivo da massa encefálica vestida!
Sentes falta...? Ó, Lisboa!
Quanto tempo... Lembro, lembro do pastel de nata de...
Deixe, deixe para lá!
Não faria falta o dever de saber...
Talvez a confeitaria ensinaria melhor, como diria Álvaro!
Os cigarros acabaram, e minha vida acende provocações,
que pouco digo, penso, e escrevo sublimações aos versos,
aos sonhos de inventor! De inventor!
Desejo, o que mais desejo, senão dúvidas e fôlego para não afogar.