Um anjo ao pé da escada
Ouvi um ruído surdo, abafado, doloroso
ao pé da escada.
Demorei a sair da rotina e olhá-lo
ali,
caído
o rosto contraído...
Mas imponente:
Um anjo de asa quebrada!
Tentei sorrir-lhe, ofereci-lhe água,
pão,
estendi-lhe a mão e
nada,
e nada...
Ele levantou-se do pé da escada
Com sua enorme asa, branca, quebrada,
– mas imponente –
e saiu trôpego, ainda olhando-me
com o canto do olho,
com o cenho frisado,
o sorriso irado...
E antes de dobrar a esquina
Ainda gritou para o meu lado:
Deixa-me!
Que tens a ver com minhas asas quebradas?
Fica tu sozinha com teus abrigos,
Com os teus sorrisos,
Com as tuas escadas!