Inútil
Sinto pena das mulheres sem profissão
que se preocupam com a limpeza de tudo
que se procuram nos espelhos em busca de perfeição.
Sinto pena dos homens que acreditam nelas,
e se tornam mudos...
Sinto-me inútil no compasso desta festa –
não me enquadro nos risos, nos vinhos
Não me enquadro na multidão.
Nem na solidão: Não sirvo para a tristeza.
Sinto-me inútil perante esses túneis – parecem impenetráveis,
Canos que não têm mais de meio metro.
Sinto pena de mim – o medo de atravessá-los.
Sinto pena de quem os atravessa: O que verão?
Sinto pena da multidão, que caminha lenta.
Sorri seus provérbios, seus preconceitos...
Sinto medo da superstição...
O que há neste caminho? Algo fugidio,
Algo fugaz...
Pobre de mim, que sou inútil.
Sigo meu túnel, perante árvores e pedras.
Em meio às cidades cinzentas, procurando pôres-de-sol...
Inútil, talvez inútil dizer:
Ai de mim, que sou covarde e percebo meu descompasso
Ai daqueles que jamais perceberão.