BOAS LEMBRANÇAS

Boas lembranças

Quando as flores desabrochavam na primavera

Os pássaros cantavam anunciando mais um dia de sol

Respirávamos o ar puro das montanhas

Boas lembranças

Quando as crianças corriam peito aberto

Pés no chão e sorriso no rosto

Papagaio e pião rodopiando no chão

Boas lembranças

Quando alimentávamos os pombos na praça

Jogávamos futebol no fundo do quintal

Comíamos goiabas tiradas do pé

Boas lembranças

Quando a escola era nosso sonho de criança

A professora era a nossa segunda mãe

O livro era o nosso amigo inseparável

Boas lembranças

Quando não se falava em inflação

Se trabalhava pra ganhar um tostão

E na mesa não faltava o pão

Boas lembranças

Quando se votava pelos feitos

Conhecia o sujeito

Tínhamos em quem confiar.

Hoje

A fome nos assola

A miséria é companheira

De um povo solitário

Que sobrevive, sem eira nem beira.

A criança não tem espaço

Não sabe o que é correr

Só corre no free fire

De manhã ao anoitecer.

Os pombos só trazem doenças

Ninguém mais os alimenta

Comem restos que sobram

Na cidade barulhenta.

O trabalho não é pra todos

Quem tiver que dê valor

É algo em extinção

Feliz quem é trabalhador.

A escola não é a mesma

O livro não tem valor

A criança vem a escola

Pra esquecer a sua dor.

O professor desvalorizado

Uma profissão como outra qualquer

A vocação deixou de lado

Um operário que ganha pra comer.

A goiaba intoxicada

Não serve para comer

A infância se perdeu

Não temos a quem recorrer.

Amanhã

Será um novo dia

Cheio de incertezas

Como diz a melodia.

Não temos em quem confiar

A política não traz esperança

Nem para nós que envelhecemos

Nem pra mais tenra criança.

Dias difíceis virão

Anuncia a meteorologia

Tufões e tempestades

Desafiando a geografia.

No céu, no mar, no ar

Tudo está um caos

Não temos como nos livrar

Nem nos mudando para Taos.

A primavera não é mais a estação das flores

Agora, com tanta chuva e ventania

Mais parece uma estação das dores

Com perdas do verde e de moradia.

São árvores caindo por todo lado

Prédios e casas desabando

O solo não sustenta mais

O vento vai devastando.

É esse o cenário

Desse Brasil varonil

É só tristeza e corrupção

Nessa Pátria tão gentil.

31/10/2021 COP 26 Glasgow