Vontade danada de mandar flores ao delegado

Hoje acordei assim

E não me recordo qual foi a última vez

Que tive as vontades que o Zeca Baleiro canta

Talvez, com a idade, os pensamentos aumentam

Tal como as dívidas

O acúmulo de ambos é absolutamente aborrecível

Mas, nos breves e raros momentos em que não penso

É como se eu tivesse lido o Telegrama

Dou-me o luxo até de fazer poesia sem rima

Ou seja: pensar, planejar, mirabolar

São mais que responsabilidades

São verbos adultos

Por que sapiens sapiens? Só saber não é o bastante?

Sabendo que sei, vou atrás de mais pensamentos

Acumulando dívidas mentais que nunca serão quitadas

Termino o poema muito mais triste do que comecei

(Tive que pensar para escrevê-lo)

Pra que vou mandar flores pr’um delegado? Logo eu?

O trem descarrilou do trilho

Mama quero ser seu

Quero ser seu

Quero ser seu

Filho