DANÇA TURVA
Dança turva, na chuva, na noite escura
A donzela recatada observa com ternura
Os clarões do céu tempestuoso e as gotas, sem amargura
Que fogem do orvalho e que embelezam as uvas
Ela não possui a alegria das recém-casadas e nem o pranto das viúvas
Nem experiência com isso, tudo o que ela vê é a chuva
Chuva forte, da qual se escondem as saúvas
O cheiro da chuva, o cheiro da chuva
Não é chuva de tristeza, é chuva de alegria, e mesmo sendo a cidade cinzenta
Ela consegue se mesclar na paisagem dos carros acesos e luzes magenta
Consegue dançar com a água, os rios, o mar, tudo isso sem ser avarenta
Sem desejar o mundo para si, querendo poucas coisas e contemplar a natureza
Danço descalça na rua, pisando os pés em reflexos de luzes acesas
Seguro um lado do vestido, e mesmo que por um segundo, eu sou refinada como a realeza
Danço na chuva em desalento
Danço porque quero sentir o vento, danço porque quero sentir o vento
Minha vida está turva e confusa e mesmo assim danço emocionada porque isso é arte
Natureza e arte se misturam e que delas eu não me aparte
Porque nelas me interesso e sofro em seu desgaste
Não deveria esperar por algo específico quando eu mesma sou muito aleatória
Posso esperar pelo meu príncipe ou apenas por pessoas com boas histórias
Que busquem teorias interessantes, até conspiratórias
Dança turva
Eu danço na chuva, eu danço de forma obtusa
Feliz ou triste, obtusamente danço e sinto a chuva
Sem guarda-chuva, sem dar nenhuma escusa
Danço, pois dançar na chuva é emoção conclusa
É puro, inocente e genuíno romantismo
Assim como as antigas técnicas do pontilhismo
Pequenos pedaços de cenários que refletem em vidros me trazem otimismo
Não gosto quando a chuva acaba
Gosto quando ela deságua, gosto quando ela deságua
Eu sou a donzela que dança, que a arte cita
E, felizmente, tipo de personalidade ela não requisita
Tenho medo de acabar sendo uma pessoa esquisita
Quem chamar de "infantilidade", não se preocupe com bobeira
Não importa se eu dançar na chuva a noite inteira
Assim como o dia, a noite é passageira
E nessa busca por aventura, quem sabe um dia o cansaço me ganha
E apenas das janelas eu observe as gotas e suas façanhas, eu sou de fato uma pessoa estranha