2 versão: Poética alquimica - Homúnculo
No canto de minha alma gesta-se a miniatura de um ser feito de angústias. Apático, ele escorre entre paredes cândidas e expansivas, esparzindo-se na alvenaria do vazio.
Em tua paralisia, ele suprime os ecos da alma em uma única expressão vibrante. Meu Abaporu existencial pende tua cabeça conglomerada e desproporcional.
No ápice dos meus delírios de genialidade, esculpi teus membros aos moldes da minha criança ferida e hermeticamente o guardei tão alheio e estranho ao mundo.
Ó vã escultura dos meus dias, semelhantes a ti, esculpi tantas outras esculturas daquilo que fizeram de mim; fui artesã da liberdade, e no silêncio contemplei a expressão da vida influir na carne.
Todas as noites eu me esquartejo em partes mínimas de mim, e as cozinho em devaneios lúcidos, pois eis que em mim habita a massa rígida do convívio, e com ela refaço todas as unidades esparsas do meu eu maior.
Minhas mãos moldam a matéria do tempo, extraindo as faces da delicada massa sensorial que se acumula em meu existir. Assim transbordo milhares de eus e os remodelo em minhas próprias escolhas conscientes.
A miniatura da existência cresce como uma flor nauseante, com tuas pétalas e vísceras tão expostas ao mundo; e ela descansa sob as formas sem rosto, esperando que um sentido a ela seja concebido.
Ó unidade vasta como um vácuo de possibilidades no céu; Ó pequena criatura que nutre-se na placenta das minhas ideias. Moldei-te a minha imagem e semelhança e expor-te ao mundo causa-me imenso flagelo, pois terei de reinventar-te sempre que a povoarem de vazios.
O ser que em mim se faz, não possui nome ou parentesco.
Apenas uma silhueta de angústias.
E os meus devaneios o finalizam aéreo sob o mármore da existência.
- Letícia Sales
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