NORMAL
NORMAL
Eu nunca disse que era normal.
Eu nunca fingi que era normal.
Eu não tenho culpa alguma
Se me tomaram pelo que não era
E me supuseram normal.
Eu nunca disse que era normal.
Eu nunca fingi que era normal.
Os eus que fui no outrora da minha vida
Disseram e até gritaram que eram normais
Porque se supunham normais,
Mas os eus que tenho sido há muito
Nunca disseram que eram normais
E nunca fingiram que eram normais.
Os eus que tenho sido
Desde o crepúsculo
Da aurora da minha vida
Sempre se souberam diferentes e anormais
E aceitaram a sua diferença
E anormalidade
E nunca disseram
E muito menos gritaram
Que eram normais.
Os eus que tenho sido
Desde o ocaso
Da primavera da minha vida
Jamais fingiram em momento algum
Que eram normais.
Os eus que tenho sido
Desde a expulsão
do paraíso terreno da infância
Sempre souberam que nunca seriam normais
E que era inútil mentir ou fingir
Que eram normais.
Eu nunca disse que era normal.
Eu nunca fingi que era normal,
Mas tampouco me senti obrigado
A desmentir os que me tomavam
Pelo que não era,
Os que julgavam
Que eu era normal
E por isso eram meus amigos
E me aplaudiam no palco
Da tragédia da minha vida,
Onde sempre tentei, em vão,
Exercer o papel de quem supunha ser,
Embora hoje saiba
Que todas ou quase todas
As minhas suposições
Estavam erradas,
Como também sei
Que talvez fosse melhor ter desmentido
Desde o início
Os que me julgavam normal.
Eu nunca disse que era normal.
Eu nunca fingi que era normal.
Eu não tenho culpa alguma
Se me tomaram pelo que não era
E me supuseram normal...
Victor Emanuel, Santo Amaro, São Paulo, SP, 06 de setembro de 2021.