Livre pensar
O poeta é sujeito esquisito: um maquiador de palavras, capaz de transformar um Frankenstein em Cleópatra e vice-versa. Augusto dos Anjos, por exemplo, no soneto, Versos Íntimos, diz: "o beijo, amigo, é a véspera do escarro". Pois eu, que tenho a pretenção de ser poeta, me reservo o direito de dizer:
Eu brindo o escarro do teu peito,
herança da mais pura heresia
que recriei na minha poesia
com tão dissimulado preconceito.
Brindo a herança a que me fiz eleito
pra decantar a torpe hipocrisia,
que só o homem —na biologia—
cultua como falta de respeito.
Brindo a tosse putri-produtiva;
o esputo oloroso que esbafora
vazando a podridão pela saliva,
cuspindo a poesia boca afora.
Que cada verso morto sobreviva
nos ecos que a tosse expectora.
O poeta é sujeito esquisito: um maquiador de palavras, capaz de transformar um Frankenstein em Cleópatra e vice-versa. Augusto dos Anjos, por exemplo, no soneto, Versos Íntimos, diz: "o beijo, amigo, é a véspera do escarro". Pois eu, que tenho a pretenção de ser poeta, me reservo o direito de dizer:
Eu brindo o escarro do teu peito,
herança da mais pura heresia
que recriei na minha poesia
com tão dissimulado preconceito.
Brindo a herança a que me fiz eleito
pra decantar a torpe hipocrisia,
que só o homem —na biologia—
cultua como falta de respeito.
Brindo a tosse putri-produtiva;
o esputo oloroso que esbafora
vazando a podridão pela saliva,
cuspindo a poesia boca afora.
Que cada verso morto sobreviva
nos ecos que a tosse expectora.