BRONZEADO ENTORPECENTE
Foram verões inesquecíveis
rumo ao modus operandi
que abotoa cada parte do paletó
e desabrocha ferozmente
nos campos espinhosos
onde o ser vive morto.
Era a brisa a sinfonia bela
acompanhada de calores infernais,
domadores da carne, queimando
o pouco pudor que ainda existiria
face a face ao grito sufocante juvenil.
Espere! É demagógico querer amar
no despautério infeliz, amarrado numa
constância febril, arrancada de nossas
inquietas facetas multicoloridas em tons,
tons tão ardentes a perder de vista.
Atrás das persianas o mar revoltoso
personificado em corpo bronzeado
encharcado de desejos passionais,
tão ilegais, inquietantes, eróticos,
sozinhos com o espelho, a contemplar,
após a janela do quarto, o emaranhado
de águas revoltas do oceano azul.
E sim, poucos mistérios entre muros,
serão suficientes para compreenderem
bem melhor o funcionamento, a mecânica,
das numerosas vezes em que o corpo falava,
porém, os dedos e a boca permaneciam quietos,
amedrontados pelo tal medo da contrariedade.
Quis de beijos preencher o vazio
presente nos tons da paixão, sua musculatura,
de movimentos involuntários, do pudor
ressabiado pela idade já nas costas,
pesarosa ao bel descompasso do tempo,
refletida sob os flashes de uma solitária câmera,
fotografando poesias escondidas debaixo
daquelas poucas roupas desgastadas.
Tempo ao tempo, olhar amargo, mente confusa
onde a ternura desmancha ilicitudes calorosas
rumo ao coração despreparado de outro alguém,
tão devasso quanto o nível de conservadorismo
apalpado pelos sentidos desmantelados, pelas
mefistofélicas movimentações, num encontro,
um êxtase precedido aos gemidos prazerosos
da imensidão monocromática de ser quem é.
De tanto elogiar a si mesmo a ponto
de esquecer de quem se trata de fato,
perder-se nas represas imediatistas...
Não! Aquele grito soou como negações
escondidas no perfil de quem esconde
mentalidades enraizadas ao desmanchar
ruborizado de cada ponto do elogio, que atiça
os centímetros da pele, dos ossos, da carne,
e finaliza numa nódoa persistente, impregnada na pele,
a qual não sai, feito tatuagem .