De graça

Estava desanimado, bem por baixo,

as palavras desistiram de fazer sentido

e as coisas estavam mais amargas

do que de costume.

Sentei ao seu lado enquanto escrevia

um poema e seu jeito de olhar a escrita

era simplesmente mágico.

Você combinava as palavras e sentimentos

em pouco espaço, era uma pílula,

uma cura rápida para as dores

do nosso cotidiano.

Quando terminou perguntei onde você

publicava, sua resposta negativa

me fez saltar os olhos.

No começo não entendi a razão

de estar escondido,

era mais do que lápis e papel,

você era livre.

Eu escrevo esperando elogios,

como um cachorro balançando o rabo

esperando um biscoito por ser bonzinho.

Você escrevia com a alma

e lia com o coração,

a verdadeira escrita

feita de graça.