FUGITIVO

E foge de mim

com sarcasmo no olhar,

sorriso sombrio,

perverso,

entredentes;

o corpo escondido

nas vestes frementes

dissolve-se em vulto

a correr, se afastar.

Invade-me o veio,

meu tudo

nas noites de insônia

e lembranças arfantes;

e até me seduz

de ilusões delirantes,

mas logo se cobre

e me nega o prazer.

Preciso arrancá-lo

do meu pensamento;

seguir levemente

aspirando o momento,

liberto das garras

de um pássaro escuro.

Pois sei ser insano

viver nesta busca

inútil, vencida

da luz que se ofusca

na trilha em que some

o tal vulto, o futuro.