Dias de cachoeira
As vezes acordo como um ser numa cachoeira
descendo um precipício
lançado abaixo daquela ladeira
um corpo em queda de um edifício
Me sinto levado pelas correntezas
cheio de desespero, tentando me salvar
devo fluir? Segurar? Nadar? Gritar?
As dúvidas dominam minhas certezas
Agarro-me nas forças que acho, faço resistência
colido com pedras que me desgastam
sou partido pelas águas que me arrastam
dou-me como posse ao instinto de sobrevivência
Entre o desespero e a insanidade
me afogando no fluir desses tormentos
encerro a luta, encontro o ponto de tranquilidade
volto ao controle dos meus pensamentos
Alguns dias de cachoeira são corrompidos
por cicatrizes que acabam se reabrindo
alguns dias de cachoeiras são doloridos
meus machucados acabam me confundindo
Os verdadeiros dias de cachoeira que habitam minha alma
me representam uma pureza na natureza
quando passam os tormentos que me tiram a calma
posso de fato ver a imagem de tal beleza
Quando navego nas águas das cachoeiras
entrego meu corpo em seu fluir
torno-me a água, torno-me as ferozes goteiras
liberto da carne o meu existir
Quando fluo como água nas cachoeiras
gela-me o ar
sigo correnteza
peixes dentro de mim a nadar
faço-me parte da natureza