Dias de cachoeira

As vezes acordo como um ser numa cachoeira

descendo um precipício

lançado abaixo daquela ladeira

um corpo em queda de um edifício

Me sinto levado pelas correntezas

cheio de desespero, tentando me salvar

devo fluir? Segurar? Nadar? Gritar?

As dúvidas dominam minhas certezas

Agarro-me nas forças que acho, faço resistência

colido com pedras que me desgastam

sou partido pelas águas que me arrastam

dou-me como posse ao instinto de sobrevivência

Entre o desespero e a insanidade

me afogando no fluir desses tormentos

encerro a luta, encontro o ponto de tranquilidade

volto ao controle dos meus pensamentos

Alguns dias de cachoeira são corrompidos

por cicatrizes que acabam se reabrindo

alguns dias de cachoeiras são doloridos

meus machucados acabam me confundindo

Os verdadeiros dias de cachoeira que habitam minha alma

me representam uma pureza na natureza

quando passam os tormentos que me tiram a calma

posso de fato ver a imagem de tal beleza

Quando navego nas águas das cachoeiras

entrego meu corpo em seu fluir

torno-me a água, torno-me as ferozes goteiras

liberto da carne o meu existir

Quando fluo como água nas cachoeiras

gela-me o ar

sigo correnteza

peixes dentro de mim a nadar

faço-me parte da natureza

R J Ferreira
Enviado por R J Ferreira em 05/06/2021
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