O que eu sou
O que eu sou?
Escrevo em um papel
São palavras, palavras...
Tudo que por mim passou.
O que eu sou?
Exponho-me a um humilde mundo
De cólera, júbilo, insensatez
Erguendo-me do fundo.
O que eu sou?
Arranco palavras do chão
Me livram do passado
Castigam-me no futuro.
O que eu sou?
Sou o verbo do atroz
Sou à vela de um barco no mar
Sou o canto de uma voz
Sou o medo de quem quer amar.
Sou o sabor amargo do beijo
O cedo que começa no fim
O mais tarde que é o recomeço
O meio do enredo que cantavam pra mim.
Sou juras que são apenas detalhes
Que a cólera me faz lembrar
Preso, num ninho de grades
Solto, no céu que vive a trovejar.
Sou meu querer que mais parece delírio
Farpas de desejo
Gritos no escuro
Moldura do que não vejo.
William Silva.