Em toda cena da vida
Ficava a esperar pela poesia
Que havia de passar onde eu estava
Nem dava conta de que em tudo o que havia
Morava o verso que tanto procurava.
Nos olhos fundos de um velho pedinte
Que antes tivera uma outra história
E hoje à mercê do dia seguinte
Tem um porto feliz perdido na memória.
No pedreiro que erguia a construção
Pensando na mulher que cerzia o vestido
Em comum, a poesia no caldeirão
Porque era dela marido.
Também a se entornar numa criança
Que avessa a ontem era só o presente
Porque versos e petizes não têm lembranças
Têm quadros felizes de que têm patente.
Digo portanto, nunca mais um olhar de desdém
Lanço às imagens que a vida traz para mim
Pois, enxergando, ou não vendo também
Toda cena da vida tem a poesia por fim.