Sendo enquanto posso ser
Sou humano, sou a cova onde morre a justiça dos dias
Sou também a nascente de onde vertem todos os sonhos
Sou viscoso e muitas vezes odioso
Meu sangue tem o cheiro da morte das estrelas
Do último momento de vida dos astros mais brilhantes
Sou a vida desencantada e desmistificada
sou os dias contados dentro dos breves aeons do tempo
Sou o antagonista desse enredo sem sentido
Sou criador da finitude dos dias na eternidade do tempo
Sou desilusão, cria dessa esperança imortal
Sou toda essa tolice, toda essa ousadia
Sou o vento nas pradarias atemporais
sou a tempestade a balançar os oceanos
Sou a tragédia que nunca se acaba
Sou o efêmero de toda felicidade
Sou a intensidade do amor mais destemido
Sou a vivacidade da beleza que se acaba nas pétalas de uma flor
Sou a explosão de todas as cores da primavera
Sou a escuridão no mar da dúvida
Sou as gotas de luz do conhecimento
Sou a música, a poesia que explica a vida, enquanto vivo
Sou o silêncio da incerteza após a morte
Sou esse fim, ainda que pareça nunca ter nascido
Sou tudo isso, ainda que não seja nada
Sou nada, ainda que meu sonho queira tudo
Caminho em silêncio nesse cosmos que não sorri
Caminho tanto, e ainda espero encontrar um espelho no limite de tudo
Espero muito, mas no fim apenas desejo uma lembrança
Quero existir e logo morrer de tanto querer existir
Quero amar tantos, quero ser amado por todos
para logo morrer por um ódio que fingi não estar ali
Sou humano, esse tão pequeno humano
Filho das estrelas, produto da evolução inexorável da química
Sou ser humano, destruidor da simplicidade de ser
De apenas ser
De apenas sorrir.