No passado
Tive minhas entranhas trespassadas por uma lança romana nas terras da Germania;
Morri defendendo Jerusalém da invasão dos cruzados mercenários;
Morri tentando preservar minha cultura milenar da destruição pelos estúpidos soldados de Fernão Cortez;
Manchei meu uniforme com o sangue de soldados de Napoleão em Waterloo;
Fui atingido mortalmente pela arma de um invasor branco de minha terra Sioux;
Tive meu corpo retalhado por uma granada do exército do Kaiser alemão.
Poucas vezes morri como herói, mas muitas vezes morri como soldado desconhecido. Contudo, todas as vezes, morri jovem e pleno vigor físico e com a certeza que estava lutando por algo de valor.
Hoje meus princípios morais e as leis vigentes me impedem de atirar flechas no inimigo que ronda meu castelo esperando o melhor momento para invadi-lo.
Não posso castrar os seres abomináveis que violentam nossas crianças.
Não posso cortar o pescoço de servidores públicos que nos roubam.
Não posso usar minha espada contra criaturas sanguinárias que vagueiam livremente pelas ruas oferecendo substancias viciantes e mortais para os jovens.
Hoje vejo a Honra como um retrato velho e amarelado de um ente querido que não verei mais, esquecido no fundo de um baú e coberto por roupas que o tempo tornou fora de moda.
Só me resta pedir aos anjos que me ajudem para que eu não sucumba vítima de dengue, febre amarela, infarto, hipertensão, diabetes, uma bala achada (em meu corpo), um novo vírus mortal ou atropelado por um motorista bêbado e então, seja enquadrado na estatística de longevidade e com 80 ou 85 anos, Deus venha e diga - Pode vir comigo. Você cumpriu sua missão(?)
Que saco!