Por Negar Emrani 

Eu sonhava com terrenos chuvosos,
De uma mulher que estava
Espalhando os cabelos à luz
Para que os pássaros pudessem colher grãos
Espalhados pelo chão.


Sonhei com dentes de leão
Que não tinham nada a dizer ao vento.
Sonhei com uma joaninha
De uma asa costurando o chão no céu
E as folhas secas vagando ao léu.

A seca estava sobre nós, e minha mãe
Estava se encolhendo em um canto da sala,
Juntando a chuva em seus olhos.

Alguma mulher
Sai do espelho todos os dias,
E ela está se aproximando
Enquanto o mundo
Aos poucos vai se acabando.

Um dia para o aniversário dela,
Outro dia para sua morte
Sem sorte.

Alguma mulher
Dentro do meu punho esquerdo,
Na crista dos meus seios,
Entre os meus cabelos
Algumas vezes molhados!
Ela sai, e tudo o que resta dela
São as pegadas dela
Marcadas em minha testa.

Alguma mulher,
Cujo cabelo é a própria pobreza,
Estica dentro
Dos meus braços para o amanhã.
Eu nunca soube
Qual dente podre
Me deu meu sorriso.
Eu tenho escondido
A tristeza entre os pistácios,
Ano a ano,
Pobre tentativa de fugir dos enganos.

A morte está próxima.
Sentada, estou assistindo o pôr do sol,
Antes de murchar o último girassol.

Um dia uma árvore crescerá
Como uma profetisa em meu corpo.
Uma profetisa sem milagres,
Tudo o que ele poderá fazer
É separar o vento em duas partes.