Orquestra Fantasma
Quando saio de casa,
Até mesmo dentro dela,
Uma música me caça,
Por mais singela.
Violões, harpas,
São como mapas,
Guitarra e viola,
Me levam mundo afora.
Músicas cadavéricas me seguindo,
Afastando e atraindo,
Orquestra sem mestre,
Me trinca, me tece.
Não vejo quem toca,
Nem quem me toca,
Sigo a rotina,
Minha sina.
Entre ruas e avenidas,
Nessas idas e vindas,
Sou sequestrado,
Pela música ao meu lado.
Transtorno,
Me transformo,
Me sinto abandonado,
Som inacabado.
Orquestra sem quem tocar,
Sem mestre a comandar,
Somente meus pés na calçada,
Uma diária caçada.
Procuro quem são,
Como fazem meu dia,
Como arruínam minha solidão,
Quem compõe essa sanção.
Sentença e tormenta,
Na avenida barulhenta,
A luz de um sol frio,
Me sinto vazio.
Essa orquestra fantasma,
Me esfumaça,
Pois na música sendo composta,
Tende-se a uma aposta.
Pois, falta um instrumento,
Nesse mundo barulhento,
Cacofonia de viver,
Quando preciso morrer.
Sou o violino faltante,
O único restante,
Preso na vida e no viver,
Por que tive que sobreviver?
Falta-me,
Me falta,
Me ame,
Me mata.
As vezes quero compor,
Como também sou composto,
Áspero cantor,
Ator de tom fosco.
Faltam integrantes,
Que deveriam ter morrido,
Mas pela teimosia,
É o menos merecido.
Não tinha ideia,
Que minha solidão não basta,
Perante a verdade,
Basta.
Poderia me sentir bem,
Poderia me sentir ótimo,
Mas não está bem,
Vai mais além.
Essa orquestra fantasma,
Que me atormenta,
Me arrasta,
Faz falta na minha praça.
Vozes me chamam,
Cantando e dançando,
Mas só eu vejo,
Estão me matando.
Essa orquestra fantasma,
Nessa vida sem graça,
Me chamam, seduzindo,
Gostaria de estar indo.