CARTA DE UM SURDO-MUDO-CEGO
Quero a carícia dos dedos, perfume das flores
Massagem dos corpos, tecidos de amores
Quero a brisa da manhã, o toque dos ventos
As comidas mais gostosas que digerem os lamentos
Quero colchões macios, analgésicos para dor
O caminho e a paciência de quem tem amor
Quero o perdão por existir e ser estorvo
Longe de mim o nunca mais do sombrio corvo
Quero ser uma planta boa com amigos leais
Se adoecer, deem-me os remédios triviais
Mas não me deixem, por favor, dores sofrer
Pois trago todos os sentimentos guardados no meio ser
Estou num labirinto só a espera de uma porta
Que Deus abra. Pois, na vida, só a solidariedade me importa
Quem me dá banho e me troca, quem me acaricia
Este presente paga todo meu silêncio em agonia...