VAGO INDIGENTE

Triste indigente de ruas indigentes e vãs

O tempo mofou-lhe a camisa e o ódio

As nuvens carregaram suas convicções cristãs

Pede esmolas como quem traga o ópio

Em suas rugas, as fendas escondem decepções

Seus filhos o esqueceram como a um casaco velho

E seu casaco são os jornais dos lixões

Se ele visse, não se reconheceria no espelho

Acostumou-se à fome, ao frio, ao não-falar

Acabaram-se as brincadeiras. Os amigos se foram

A doença é necessária como o respirar

As calçadas são seu frio e furo, colchão

Porque os políticos falam tanto e tão bem?

Ele fez-se mudo. Língua é pra quem tem bens!

Audsandro do Nascimento Oliveira
Enviado por Audsandro do Nascimento Oliveira em 20/01/2021
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