VAGO INDIGENTE
Triste indigente de ruas indigentes e vãs
O tempo mofou-lhe a camisa e o ódio
As nuvens carregaram suas convicções cristãs
Pede esmolas como quem traga o ópio
Em suas rugas, as fendas escondem decepções
Seus filhos o esqueceram como a um casaco velho
E seu casaco são os jornais dos lixões
Se ele visse, não se reconheceria no espelho
Acostumou-se à fome, ao frio, ao não-falar
Acabaram-se as brincadeiras. Os amigos se foram
A doença é necessária como o respirar
As calçadas são seu frio e furo, colchão
Porque os políticos falam tanto e tão bem?
Ele fez-se mudo. Língua é pra quem tem bens!