Teogonia craniana

I

Nas fúnebres rutilâncias do caos,

formas se contorcem em amnésia.

Hirtas, afundam-se as consciências

por entre os dejetos das memórias.

As vidas que se debilitam no reino do esquecimento,

expelem teus agrotóxicos enfermos, e contagiam a terra.

Ora cheia de ideias que nunca hão de vir;

Assim, testifica-se a degradação de um ser

que jamais há-de brotar do útero noturno de Deméter.

II

Nos recônditos canteiros da mente humana, anula-se a filosofia e encerra-se a história; ambas gritam no antro estreito, donde as palavras não chegam, donde o esterco se acumula no inferno social.

Ode ao Dante que percorreu a depredação da alma, inalando a fragrância do enxofre moral;

E que nos lagos de fogo e concreto,

fitou vidas que estavam a rezar nos becos da violência; em vão tentavam purgar a nódoa eterna da existência.

III

No pandemônio pandêmico,

Satã se aglomera junto ao

desespero das vidas confinadas.

E as formas sem nome pairam na escuridão do inconsciente;

essa gruta amorfa que guarda as sementes do pensamento.

Então, serás o mundo uma

eterna claustrofobia em brasas?

Chama escaldante que lança aos abismos, pássaros sem asas?

IV

Eis que a soberania interior que nunca há-de calar, fecunda as memórias, e faz inchar o silêncio até desagua-lo em palavras.

A linguagem dá forma ao caos,

desvelando os Érebos que outrora confinavam vidas nas funduras humanas.

V

As musas revelam a coerência luminosa do mundo, injetando a anarquia em sua forma mais pura;

Ou o caos que se organiza na órbita mais escura.

Em sua interioridade a consciência expande; então extrai-se a vida que outrora adormecia no reino das formas vazias.

Letícia Sales
Enviado por Letícia Sales em 18/12/2020
Reeditado em 22/12/2020
Código do texto: T7138201
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.