A depressão de Atlas
O mundo não vale essa minha dor;
portanto, não lamente minha sina, ou ele terá nossa sinfonia de tristezas fundidas em uma orquestra suicida.
Ah, essa circunferência desperdiça minha existência em curvaturas que persistem em me englobar na esfera anêmica.
Minha carne está amalgamada com a da terra e inflama junto a dela.
Ó mundo, pudera eu não te sentir em demasias, como se fizestes parte de mim?
Já a tanto tempo sustento a atmosfera em meus ombros, que desconfio fazer parte dela.
Ah, mas o mundo não vale essa minha dor incessante;
Essa chaga que me faz fitar o vazio fora da terra, tão grandioso em levezas ao suspender os planetas com tamanha maestria.
Quisera eu suspender a matéria que me pesa, e por fim vê-la envolta num enlevo espiralante de quem volta para si.
Mas de mim então, o que sobrarias?
Pudera eu existir fora de um mundo pensante?
Invejo os astronautas, que pairam no vácuo espacial, e por um instante olham para o nosso disforme ponto azul sem a simbiose de ser humano, e ter que carregar a terra sob um frágil lombo.
Ah, mas apartar-me do mundo é mero devaneio, estou presa a ele e ele a mim.
Sou a vértebra da coluna cervical e sustento o mundo que eu mesma criei.
O mundo, meu deus, é a minha cabeça.