Vestígio

Porque você me afoga

Quando a chuva me lava?

Porque você só fala

Quando me faltam palavras?

Porque me deixas tão só

Quando já encontrei meu caminho?

Porque oculta-me as rosas

E mostra-me espinhos?

Quando me olho no espelho

Vejo seus olhos pesados

Com pretensões incertas

Vejo minhas memórias amargas

Em nossas feridas abertas.

Porque nascemos juntos

E vivemos separados?

És meu único amigo

E meu vil inimigo

Porque mesmo ausente

Sempre está meu lado

Porque só gritamos

Quando não há mais ninguém pra ouvir?

Porque só oramos

Quando Deus parece não nos sentir?

Talvez seja porque

Deus está aqui — e não lá fora

E que quem realmente te ouve

Nunca foi embora

Mas sempre esteve aqui

Alertando o caminho

Escrevendo tua história

Um dia alguém me disse

"Morremos duas vezes:

Primeiro morremos da carne

Depois, morremos na memória"

Então, Deus, quando eu me for

Permita que o grito que ecoa aqui dentro

Ecoe para sempre lá fora

Para aqueles que me amam

Carregarem sempre consigo

Uma fagulha da chama,

Um vestígio de mim.

Augusto Aster
Enviado por Augusto Aster em 04/12/2020
Reeditado em 22/12/2020
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