Vestígio
Porque você me afoga
Quando a chuva me lava?
Porque você só fala
Quando me faltam palavras?
Porque me deixas tão só
Quando já encontrei meu caminho?
Porque oculta-me as rosas
E mostra-me espinhos?
Quando me olho no espelho
Vejo seus olhos pesados
Com pretensões incertas
Vejo minhas memórias amargas
Em nossas feridas abertas.
Porque nascemos juntos
E vivemos separados?
És meu único amigo
E meu vil inimigo
Porque mesmo ausente
Sempre está meu lado
Porque só gritamos
Quando não há mais ninguém pra ouvir?
Porque só oramos
Quando Deus parece não nos sentir?
Talvez seja porque
Deus está aqui — e não lá fora
E que quem realmente te ouve
Nunca foi embora
Mas sempre esteve aqui
Alertando o caminho
Escrevendo tua história
Um dia alguém me disse
"Morremos duas vezes:
Primeiro morremos da carne
Depois, morremos na memória"
Então, Deus, quando eu me for
Permita que o grito que ecoa aqui dentro
Ecoe para sempre lá fora
Para aqueles que me amam
Carregarem sempre consigo
Uma fagulha da chama,
Um vestígio de mim.