Parede vazia
A água me acompanha sempre
porque as lágrimas me escapam toda noite.
Estou rodando em círculos
e minha cabeça está na mira da foice.
Eu não consigo mais dormir.
A estrada mais longa me guiou
até aqui, eu costumava gostar
do cheiro da gasolina.
Agora, o álcool me abraça.
Já busco o sol há dias,
mas ele se escondeu no
findar do último verão.
O medo já é uma parte de mim,
é como se ele se misturasse
ao meu sangue e a reação
produzisse um tecido da minha pele.
E que grande pele,
que esconde tudo o que eu
não tenho coragem de mostrar.
Esconde até minhas cores mais bonitas
e brilhantes. Estou sem forças.
Eu não consigo mais empurrar as
portas e sair desse armário de dor.
Eu já me acostumei com a dor,
ela é como o medo, mas eu não a
escondo mais sobre a pele.
Ela se infiltra no meio sorriso
acompanhado do olhar exausto,
que parece não transparecer meu grito por socorro.
As 24 horas soam como 24 dias
que são infinitos por alguns momentos.
Eu queria que o meu infinito
fizesse sentido.
Mas como eu posso tentar entender
uma palavra que significa tão pouco
e tão muito?
Eu vejo o céu como o infinito,
mas sempre tem um limite físico
que não me deixa sorrir por muito tempo.
Parece que até a natureza
se machucou com a minha dor.
Eu não vejo mais as flores
como antigamente, elas estão murchas
e a culpa é minha.
Talvez eu as tenha roubado a água.
Espero que, um dia, elas me perdoem.
Mas ficar tanto tempo sozinha me desidratou
e eu busquei a solução no lugar errado.
Agora vejo que o verde é a salvação,
mas não a esperança.
Eu já me cansei de esperar
pelo que nunca virá.
Hei de seguir meu caminho
pelo leito do rio
E torcer pra não
me perder no vazio.