Parede vazia

A água me acompanha sempre

porque as lágrimas me escapam toda noite.

Estou rodando em círculos

e minha cabeça está na mira da foice.

Eu não consigo mais dormir.

A estrada mais longa me guiou

até aqui, eu costumava gostar

do cheiro da gasolina.

Agora, o álcool me abraça.

Já busco o sol há dias,

mas ele se escondeu no

findar do último verão.

O medo já é uma parte de mim,

é como se ele se misturasse

ao meu sangue e a reação

produzisse um tecido da minha pele.

E que grande pele,

que esconde tudo o que eu

não tenho coragem de mostrar.

Esconde até minhas cores mais bonitas

e brilhantes. Estou sem forças.

Eu não consigo mais empurrar as

portas e sair desse armário de dor.

Eu já me acostumei com a dor,

ela é como o medo, mas eu não a

escondo mais sobre a pele.

Ela se infiltra no meio sorriso

acompanhado do olhar exausto,

que parece não transparecer meu grito por socorro.

As 24 horas soam como 24 dias

que são infinitos por alguns momentos.

Eu queria que o meu infinito

fizesse sentido.

Mas como eu posso tentar entender

uma palavra que significa tão pouco

e tão muito?

Eu vejo o céu como o infinito,

mas sempre tem um limite físico

que não me deixa sorrir por muito tempo.

Parece que até a natureza

se machucou com a minha dor.

Eu não vejo mais as flores

como antigamente, elas estão murchas

e a culpa é minha.

Talvez eu as tenha roubado a água.

Espero que, um dia, elas me perdoem.

Mas ficar tanto tempo sozinha me desidratou

e eu busquei a solução no lugar errado.

Agora vejo que o verde é a salvação,

mas não a esperança.

Eu já me cansei de esperar

pelo que nunca virá.

Hei de seguir meu caminho

pelo leito do rio

E torcer pra não

me perder no vazio.

Melissa Gaidena
Enviado por Melissa Gaidena em 16/11/2020
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