APELO SOFRIDO
Acende, em mim, Senhor Deus,
O fogo, antes, ardente, fecundo,
Que me impulsionava a viver
Ainda que lágrimas persistentes
Tenham testemunhado minhas dores,
Mesmo assim, o fogo abrasador
Queimava-me as toxinas
mortais.
Hoje, encontro-me quase sem alento,
Como se morta, de fato, esteja.
É ruim, ruim mesmo, Senhor Deus,
O sentimento de agora, sem ânimo,
Morro, muito antes da hora prevista.
É um viver sem sol, sem fogo,
É agonia sem dó, sem piedade,
Enfim, é morrer devagarzinho, bem devagarzinho,
Cumprindo castigo sem merecer.
E assim, quedo-me a gemer, somente a gemer,
Único fato que diz que ainda vivo.
Não mais gritando, me rebelando,
Contra dores que me dilaceram
A carne, o espírito, a alma.
Senhor Deus, vem, rápido, salvar-me
Pois sei que preciso é continuar
Neste labirinto de dores cruciais,
No intuito de mudar este quadro negativo,
Para viver conforme a Tua vontade,
Na plenitude da alegria que produz saúde,
Porque disseste:
Vim para que todos tenham vida em abundância.
Teresina, 30 de julho de 2005.
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Francisca Miriam Aires Fernandes, em "Safra Poética", 1ª edição, CBJE, Rio de Janeiro, 2020 (Página 34).
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