POESIA COTIDIANA
Vejo poesia em quase tudo no dia...
Nas horas duras que se arrastam
Durante o imenso dia,
Teimamos em viver!
Essa vida dura é poesia!
Lutar pra sobreviver!
O sorriso estampa o rosto
Do pai que é torcedor,
Grita junto dos cinco filhos,
Quando o time é ganhador.
Debruçados sobre o muro
Do vizinho perdedor,
Sacaneiam o coitado
Com versinhos sem pudor.
Vejo poesia muito longe das brasileiras academias...
Tem poeta encantador, lá na periferia,
Seu reduto sedutor.
Rima pobre em pouca linha,
Pontuando sem temor.
Escreve pra mocinha,
Versinhos de amor.
Em resposta a investida,
Entrega para o admirador,
Tudo que ele mais queria,
Numa noite de amor.
Vejo poesia no final de cada dia...
Na hora de dormir
Chega o sonho que liberta,
Traz com ele a ilusão,
De uma vida mais honrosa,
Pra parte pouca da população.
Uma vida mais segura,
Ao sair pra trabalhar,
Deixando cheia a geladeira,
Sem deixar nada faltar.
Os pequeninos amparados
Por doutor familiar.
O dinheiro para o remédio,
Pra doença extirpar.
Voltar pra casa própria,
Na comunidade exemplar,
Com televisão e a mesa farta,
Um sofá pra descansar.
Com a sobra das despesas,
Levar os filhos pra nadar,
Com carro vistoriado,
Mais barato do popular.
Aproveitar o sol de domingo
Para o corpo bronzear.
E com as crianças bem cansadas,
A noite ainda namorar.