Tesouro perdido
Algo está faltando,
Algo que de tão ausente
Nem mesmo faz falta.
É o que eu penso,
Quando tento pensar a respeito.
Como sentir falta de algo
Que nunca existiu,
Mas, ao mesmo tempo,
Há uma sombra, um fantasma
Uma realidade sobreposta
À minha própria,
Um dejavu.
Havia algo ali, naquele canto
Algo que completava a cena,
Uma mobília antiga,
Que nunca foi digna de atenção,
Mas era exibida com orgulho,
Para que fosse vista, adorada,
Amada.
E eu já nem sei o que era,
Como era, qual a sensação
Que me trazia ter aquilo.
Não sei nem como se perdeu,
Quem levou de mim essa parte
Tão pequena e tão grande,
Que consegue significar tão pouco,
Mas dá um significado tão grande
Ao conjunto da obra
Que é a vida.
E agora eu observo uma pintura,
Sem distinguir as cores,
Experimento sem degustar,
Sinto sem sentir,
Mimetizando aquilo que já fiz
A fim de que em algum momento
Seja real.
Minha sala está incompleta,
Meu quadro arruinado,
Eu estou quebrado e não sei
Como consertar.
Amanhã, olharei para o mesmo local,
Não lembrarei que senti falta
Do que estava lá,
A vida vai seguir até que
O vazio naquele canto volte a me incomodar
E eu volte à questão:
O que foi que eu perdi?