Naufrágio

Sob a ilha, fito a dura consciência das rochas;

Tua massa rígida abate a flacidez colérica

dos pensamentos; amassando-os contra um vento,

tão aéreo em levezas.

Encontro-me no pedaço esmo de mim; no mais

solo e esguio marasmo da terra; esforçando-me para

humanizar a areia donde ninguém mais pisa.

Talvez já sejas humana em sua essência desamparada,

pois eis que é coagida pelas marcas que deixo ao caminhar.

Eu, que cavo-a com o meu pesar, ladrilhando uma trilha,

para que a angústia desfigure-se em face das memórias

marcadas no chão.

No mar fito as bodas do nada, elas pairam num horizonte

instransponível; todas fundidas ao vazio do arrependimento.

Todas mergulhadas nas lágrimas oriundas de rochas lambidas pelas águas;

Lembro-me do naufrágio:

A embarcação foi dissoluta e navegou sob palavras líquidas,

Assim, afundou na mais sórdida inconsistência; sobrou-lhe

o casco duro da efemeridade e o eco que predomina sob a rigidez das pedras.

E sobrou-me uma ilha cujo sol irradia com a indiferença mais pura de quem se doa.

Letícia Sales
Enviado por Letícia Sales em 10/09/2020
Código do texto: T7059831
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