Poecrisia
Pai meu que estais no céu (que me convém)
Santificado seja eu!
Sim, seja eu...
Porque sou mais santo que os ateus
Meu pranto é muito mais alto
Do que o gemido inexprimível
Daquele vagabundo largado na esquina
A real personificação do que considero desprezível...
Sim, sou fariseu com muito orgulho
Na minha oração amo o irmão da teatral comunhão
E odeio todo aquele que em meu discurso oportuno
Considero pagão...
Pois foi assim que me ensinaste
Certo, Pai meu?
Pai meu
Afasta de mim todos os indignos
Afasta de mim todos os malignos
Convém a mim que sejam os mendigos
Ou aqueles que "não batem o meu signo"
Não que eu acredite nisso
Mas faço uso quando preciso...
Bendito sejam os ricos!
Esses eu quero sempre muito bem
Eles O receberão em suas fabulosas casas e homéricos templos
No grande dia do fico...
Por eles eu tenho zelo
Peço que no dia de passar pelo fundo da agulha
Não sejam eles camelos...
Pai meu...
(Eu falo "meu" porque seu eu disser nosso, vão me chamar de comunista..)
Estamos numa época sofrida
O mundo sofre com a pandemia
As arrecadações dos fiéis diminuiram
Não tenho conseguido sequer
Manter em dia as mensalidades da minha academia!
Pai meu, tu és o meu patrono
(Eu falo patrono, porque se eu disser patrão vão me chamar de capitalista...)
Sou um fundamentalista!
Pra mim não vai subir aos céus
Ninguém que não estiver primeiro na minha lista
São aqueles que nunca tem dinheiro pro camarote
E na balada da vida, só vão "na pista"
Sua Palavra não muda e se cumprirá de forma integralista
Mas quando for analisar os pecados do seu povo "escolhido"
Não passe por Romanos 11...
(Por favor, nessa hora não seja tão literalista)...
Pai meu
Faço essa confissão de joelho
Ouça agora todo meu apelo
Logo mais sairei chicoteando com minha benevolente língua
Todo aquele que diante de Ti
Se porta como inconveniente rebelo
Ouça essa oração
Que assim seja, "a mim"....
(Chamo esse escrito de poecrisia, porque se eu chamar de poesia, vão falar que é heresia)...
Leandrowski
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