Sussurro


Não pare, não pense.
A alienação de ontem
é o segredo de hoje, assim foi.
Do outro lado existe um mistério,
uma vaga percepção, alheia, vã,
a virtude a ser deflorada,
a expectativa, a reserva de direitos
por viver, o simples fato de amanhecer.
Não se faça, nem traga um ar de rogada,
alheia, disfarçadamente neutra
ao que lhe pertence por direito,
os traços esculpidos no semblante
irreverente, dono de todos os defeitos,
combinando o preto ao rubor da madrugada,
desferindo a doce punhalada
no dia que vai raiar,
para revelar todo o mistério,
as concessões perdulárias,
múltiplas, férteis, porém concedidas.
Olha, existe a palavra silenciosa,
quase um sopro balbuciando,
delatando que hoje é manhã.
Se faz mais um dia,
menos um na existência humana,
um a menos ao desumano
para que fervilhe suas causticantes,
mórbidas crueldades.
Olha, largue o ontem, fique hoje.
Do outro lado é segredo.
Fique alheia ao medo
e toque em toda a virgindade,
pois também somos defloráveis,
quando não física, espiritualmente,
neste fim de época,
início de tantas histórias.