Revolta


Não quero que o amanhã,
esta doce ilusão, me faça em esmoler,
troçado pelas ruas, pelo povo,
fugindo das vielas escuras,
sucumbindo nas calçadas pisadas.
Não quero mãos estendidas socorrendo,
para após lançar a bofetada;
nem bocas proferindo preces,
escarrando no minuto seguinte.
Não quero o pão forjado,
legado aos loucos,
nem tampouco água cristalina
despejada no córrego de louvores.
Não quero falsos amores,
aprendizes de profetas
louvados pelas bênçãos hipócritas
dos folhetins baratos.
Também não almejo putas,
companheiras de infortúnios
lançando prazeres,
enquanto adormeço ironicamente,
sem saber se existem.
Não Deus, não quero, hei de fugir,
entregar o único pertence... A vida,
antes que tudo quanto me leva ao desespero
se abata sobre meu teto,
sendo eu, meu próprio desafeto.
Declaro-me inoperante para operar
esta máquina, estranhamente
rotulada de vida.