Relacionamento Abusivo

Viajei por vários verões

Deixando em terras quentes

Um coração do passado

Sem olhar para trás

O relógio virou o ponteiro

E o outono veio certeiro

Eu te conheci nas ruas

Inesperadamente, estava dominada

Tu me trancaste em casa

Dizendo que estava segura

E protegida pelas tuas asas

Como um anjo que caiu do céu

Dias contados numa cama

E tu me dizendo que as chamas

Da rua eram perigosas demais

E que devia continuar como estava

Da janela de casa, eu e tu olhávamos

Corpos andando pelas ruas

Debochando das armadilhas

Enquanto tu seguravas meu corpo

E eu estava dominada por teus beijos

Com as tuas mãos cuidando de mim

Eu parecia estar tão à vontade com aquilo

Que eu jamais pegaria os documentos

Dias contados numa sala

E tu me dizendo que estávamos

Na melhor das alas

Aquela que ninguém pode tocar

Os meses foram passando

E o outono virou inverno

O sol e frio nunca mais viram

Mesmo que usasse roupas para recebê-los

Um dia, eu acordei com as portas abertas

Sozinha e com medo

Daquele vento que entrava por casa

Fechei imediatamente e com pânico

Mandei-lhe uma mensagem desesperada

Perguntando por onde tu andavas

E tu me respondeste dizendo pra ficar bem,

Pois tu estavas me protegendo de todo o mal

Um dia, eu me arrumei toda no espelho

O que porquê desta roupa?

Pensas que tu vais sair?

Ele me disse que eu poderia morrer

Dias contados num escritório

E tu cozinhando e preparando

Aquele meu prato favorito

E dizendo que eu estava satisfeita

Em uma tarde de inverno

O sol convidava para tomar um chocolate

Me arrumei e fui sair

Quanto tempo não curtia aquela cor?

No primeiro dia, era o medo

No segundo, era o alívio de viver

Quando tu soubeste, me julgaste

Como uma louca para morrer

Um dia, tu sumiste e esqueceste o celular

E os documentos, fui capaz de mexer

E te vi a divertir pelas ruas

Multidões e sorrisos ao teu redor

Cadê aquele perigo que tu me disseste?

Cadê aquela maldade que havia?

Se eu poderia morrer, tu és imortal, então?

E eu virando poeira dos móveis de casa

E tu voltaste, dizendo que estava bem

E me perguntando como foi o meu dia

Não troquei uma palavra

Apenas suspirei por dentro

Dias contados para te ver sumir,

Enquanto eu me arrumo para um jantar

Sozinha comigo mesma, bem

E quieta perante tuas incoerências

E um dia poderei me vestir livre

Com aquelas roupas lindas da minha gaveta

E dizer que conheci a pior das pessoas

Aquela que mente para si próprio

E um dia lembrarei que acordei como sol

E que os raios que entraram mostraram tua escuridão

Eu estarei bem, como sempre

Para te esquecer como as fotos que apaguei

Leão de Virgem
Enviado por Leão de Virgem em 26/07/2020
Reeditado em 26/07/2020
Código do texto: T7016933
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