Declaro

Somos provisórios
na decantação de nossas vidas,
nos sonhos e nas chuvas,
sob as águas e o sol.
Somos provisórios
em nomes prolongados,
em curtas mensagens pelos olhos.
Provisórios nos abraços,
nos amores que passam
e não deixam vestígios.
Somos provisórios nas tentações,
no sumário pano que cobre o nu,
na vertigem que encobre a paz;
o feitiço do amor esquecido no leito.
Somos inteiramente provisórios.
Passageiros marcados pela troca.
Agora somos dia, sol, brilho.
Logo após, noite, perfil do silêncio,
lua, estrelas, escuridão.
Somos sorrisos, em seguida lágrimas.
Afagamos com a mão que em seguida,
pérfida, lança pedras.
Tanto respiramos como expiramos.
O passo, o fato se faz em segundos.
Somos verdades participantes,
também inerentes, ilusórios.
Somos defeitos, vida, perfeitos,
extremamente capazes, racionais,
portanto, somos incapazes e provisórios.