Vivo

Viver é como se de repente
o valor, a importância tomassem novos rumos.
Viver é fazer, acontecer no feito,
participar diretamente, se não for o centro,
sorrir pelo contorno.
Viver é alternar, observar mudanças,
criar, ter frutos, plantar,
cativar o sol, cultivar a terra,
amar, respeitar e o ser pelo semelhante.
Viver é dar o sangue, o suor
pelo sagrado direito de respirar
e não ser apenas uma figura decorativa,
no que tão bem foi decorado pelo Pai.
Viver é saborear cada manhã,
saciar a sede no dia e naufragar na noite.
Viver é não deixar que o espúrio,
a incúria, vençam o leito,
o sabor da decisão,
o manifesto da razão.
É colher na semente benigna
o futuro gene, o mel da produtividade.
É o calor da vergonha emoldurando o rosto.
Viver é sabiamente o ato da fé,
a crença em dias promissores
fazendo da derrota a palavra de otimismo.
Só que eu, eu bem aqui no fundo,
na obscuridade, conheço as palavras, formo-as.
Mas de direito, quero, preciso efetuar,
conhecer o organograma da vivência
nas pautas, tudo sai exato, concreto.
Mas nas pautas, linhas da vida,
a máquina gira ao contrário,
talvez pelos polos traçados ou meus poros fechados,
não cedem a absorção da vida.
Lamento, apenas lamento.