O pálido abismo da existência
Na distância oca, zumbidos e passos arfam, titubeando sob os ecos da movimentação. A cada avanço, um precipício se forma nas dimensões vazias do branco ocular, donde a visão é transportada para os espaçamentos entreabertos no solo; por lá escorro entre abismos de substâncias pálidas e cegas, assim, o som e as formas se esfacelam numa só queda.
Nas canduras enraizadas, toda a geometria dos objetos se perde em uma grande massa esparsa, todas as finalidades interpostas nas sólidas disposições de vida, acatam a gélida distância estagnada na brancura crescente do nada.
A existência tornara-se imponente e viril sob os olhos, como se exigisse um formato meu, como se de súbito revelasse meu segredo oculto de artesã da condição humana.
Das raízes, a liberdade é esticada aos confins cabais do céu, extraviando-se do estado nulo aos longínquos espasmos das possibilidades. Esse seria o pulsar da existência, o movimento do pássaro que rompe o mundo níveo de um ovo, a convulsão das asas embrionadas na enigmática e frágil casca da consciência.
Na medula faminta de um abismo, sinto a vertigem da dissolução que se encerra em uma escolha ou pulsão magnata; O espiral tonteia meu voo e dou-me conta de que não estou segura vivendo na vaguidão ou em qualquer lugar premeditado.
Então deixe que eu me lance aos abismos fundos da alma, entre os riscos da expressão afunilada, dentre a chama agonizante da pastosa neve que esfria-me na diáspora das formas.
A liberdade abre -se distante e calejada, e em um súbito momento de dispersão, o voo erra o caminho e adentra a câmara sem bússola.
- O mundo não é seguro. Repito em estado de pálida euforia.
- Silêncio, não acorde a vida incutida nesse voo dormente, deixe que eu encontro o ponto crescente entre o sono das formas, deixe-me delimitar a força de potência que adormece nas funduras abismais.
A cegueira se impõe enquanto cavo o substrato de mim;
E na refração da luz branca, fito os parciais segmentos que se escondem por trás da genealogia do mundo.