Inferência Não Autorizada
Derrubei alguns filtros no meio do caminho
E sei que não estou melhor assim
Embora esteja rindo histericamente
E essa pareça uma sensação nova
Algo que talvez eu só tenha sentido em outra vida
Você me diz que eu só conheço uma de suas máscaras
Quase me desafiando a tirá-la
Quase desafiando meus dedos gelados a colocarem outra no lugar
Ou a simplesmente deixá-lo sem
E descobrir se gosto do rosto que existe embaixo
Você me provoca sem perceber
E é quase uma pena que não saiba disso
Que não entenda o efeito que suas palavras aparentemente inofensivas me causam
Que me dão vontade de vestir uma máscara púrpura cravejada de luxúria
É um erro, eu sei
Um erro que já vivi e no qual já me deliciei
Ou, pelo menos, é isso que diriam meus filtros
Se não os tivesse afogado em uma taça de vinho horas atrás
Gosto de erros desafiadores e provocantes
Sempre gostei, não adianta ser polida e negar
Gosto de viajar em todas as inferências não autorizadas que faço de suas palavras
Porque continuo sendo capaz de sentir coisas intensas apenas quando sangro
E está tudo bem se eu for a única a me machucar
Os idealistas pensariam que já teria aprendido a não cair nessas armadilhas
Mas a verdade é que ainda não resisto às mais elaboradas
E não é justo que suas palavras me causem tanta euforia
E eu precise simplesmente ignorar
As coisas não vão acabar bem, eu sei
Até porque elas nunca realmente começaram
Foi apenas uma inferência não autorizada
Que me levou a sonhos nem um pouco lúcidos
Eu não devia começar tudo de novo
Mas você não combina com a única máscara que conheço
E seria uma inferência completamente autorizada dizer
Que ainda vou te ver sem ela
Dia 88 da Quarentena