Efeitos do isolamento

A veia na têmpora, saltitando inquieta

A ânsia e a azia

Juntamente com a hipertermia

Bagunçaram o meu sistema de tal forma

Que me tornou insolente

Até mesmo na frente do mais infeliz indivíduo.

O peito palpitando, como “Griot”

E a minha glote fechou-se, de súbito

A boca secou e

A mão estremeceu, alienada ao resto do corpo.

O martelo, a bigorna e o estribo

Juntaram-se em uma única melodia

Para compor um refrão que me rasgou a vida

Em forma de tiro.

Fui apagado

Dentro do âmago da amargura

Sendo amaldiçoado pelo espelho

Que refletia a minha caricatura.

Quantas assonâncias eu cuspo

Para tentar explicar-lhes

O inexplicável

Vejamos:

Entre a maldade da ansiedade e

A solidão da depressão

Há uma perversidade, pelas ruas da cidade

É um monstro, sem rosto e sem coração.

Quanta aliteração

Terei que colocar em minha literatura

Para que vejam em meu coração

Quanta magoa me tortura

Vejamos:

A principal patologia psíquica presente em meu poema

É a peste que me persegue pelas paredes e persianas

De meu pensamento.

Ilustríssimo Carlos

A vida parou

E o automóvel também

São tempos sombrios de pandemia.

Espero que a alma de vocês

Esteja na mesma residência que seus corpos

A minha, abandonou-me

Deve estar em alguma aglomeração clandestina.

J Sousa
Enviado por J Sousa em 12/06/2020
Reeditado em 12/06/2020
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