REPENTE

No martelo de castelos encontrados

As mocinhas se apaixonam por heróis

Os soldados são guerreiros conformados

E os médicos vivem do que dói

Na esperança de um futuro de florestas

Eu escrevo estes versos como quem reza

Nos galopes de um feirante agitado

Vou vendendo os meus troços de agonia

Pois se o que vejo é um retrato

De miséria, de doença, gritaria

Só posso cantar o meu tempo de tristeza

Como quem leva uma punhalada de incertezas

No repente de um contador estropiado

O meu verso é aleijado, feio e corvo

Sou frustrado por não cantar de improviso

Sou mais torto que joelho de torno

Minha cabeça me dói o fígado

Sou impotente sonhando ser bígamo

Mas se mostro como um doido

O mundo é meu hospício

Vejo cada cantor desafinado e rouco

Cada poema via-crúcis de suplício

Então, sigo torto e descamisado

Mas sabendo-me imperfeito ante o sagrado

Quem reconhece os defeitos e não muda

É como um cego que jura enxergar

Eu prefiro ter dinheiro de bermuda

Que de paletó não ter o que gostas

Nesta vida de aparências e lucros

Meus pecados eu pagarei com juros

A cantoria me faz homem alerta

Aos corruptos, ladrões e difamadores

Pois eu mesmo estou nesta cesta

A gente é tudo um balaio de amadores

Tentando ser bom, indo na igreja

E dando esmola pra que ninguém nos apedreje.

Audsandro do Nascimento Oliveira
Enviado por Audsandro do Nascimento Oliveira em 31/05/2020
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