Do dia que nos demos conta
No alto daqui
Distante do próximo fim
Lençóis bagunçados sobre a cama
Café gelado em cima da escrivaninha
Esperando a boca que tardou
Dessa vez, não voltou.
À espreita da paisagem confusa
Dessa chuva que cai com calma
E cada gota não molha
Só inunda pensamentos lá fora
Sobre tudo aquilo
Que não pôde pertencer.
Era muito.
Ou passou da hora.
Pés descalços a subirem os degraus
Vento forte que sopra todo o silêncio
Arrancado-lhe à força
E carregado a mim
Por correio, talvez.
Estática, a observar o verde jardim
Repleto de grãos invisíveis
De pedaços áridos
Tanto quanto infames pela indiferença
Melhor não dizermos nada, nada.
Afinal, a economia de palavras
Foi instrumento que nos trouxe até aqui.
Meras recordações já não me cortam mais
Desertamos o que, em tempos passados,
Foi oásis - precisou do nosso estrago.
Ressignificamos e deixamos para trás
O exagero dos dias sozinhos
Mesmo a dois.
Recortes sem cor de domingos
Falta da nossa própria fome
Pois o amor gera o apetite de alguém
Daquele outro, ali perto sentado,
Com as mãos querendo ser entrelaçadas.
E coração aspirando ao abraço.
Choramos o choro não mais nosso
E, agora, rimos sem a presença mútua.
Outrora, seria a morte última.
Em um longo-súbito suspiro momentâneo,
Percebemos o que a gente não via
Assim, se foi.
Ao fim, se conduzia.