Do dia que nos demos conta

No alto daqui

Distante do próximo fim

Lençóis bagunçados sobre a cama

Café gelado em cima da escrivaninha

Esperando a boca que tardou

Dessa vez, não voltou.

À espreita da paisagem confusa

Dessa chuva que cai com calma

E cada gota não molha

Só inunda pensamentos lá fora

Sobre tudo aquilo

Que não pôde pertencer.

Era muito.

Ou passou da hora.

Pés descalços a subirem os degraus

Vento forte que sopra todo o silêncio

Arrancado-lhe à força

E carregado a mim

Por correio, talvez.

Estática, a observar o verde jardim

Repleto de grãos invisíveis

De pedaços áridos

Tanto quanto infames pela indiferença

Melhor não dizermos nada, nada.

Afinal, a economia de palavras

Foi instrumento que nos trouxe até aqui.

Meras recordações já não me cortam mais

Desertamos o que, em tempos passados,

Foi oásis - precisou do nosso estrago.

Ressignificamos e deixamos para trás

O exagero dos dias sozinhos

Mesmo a dois.

Recortes sem cor de domingos

Falta da nossa própria fome

Pois o amor gera o apetite de alguém

Daquele outro, ali perto sentado,

Com as mãos querendo ser entrelaçadas.

E coração aspirando ao abraço.

Choramos o choro não mais nosso

E, agora, rimos sem a presença mútua.

Outrora, seria a morte última.

Em um longo-súbito suspiro momentâneo,

Percebemos o que a gente não via

Assim, se foi.

Ao fim, se conduzia.

Mariane Amaral
Enviado por Mariane Amaral em 19/05/2020
Reeditado em 19/05/2020
Código do texto: T6951573
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