Poesia erudita
Quando se planta o sonho com a fome
Quando se retrata a consciência com a sede
Quando evitamos a distorção da matéria
Quando sufocamos, com força, a respiração do corpo...
Quando inibido o desespero da nossa alma em chamas.
Quando tocamos as cordas da nossa composição:
Abrimos no colo do útero um corte manchado pela mudança do tempo.
Abrimos, em uma curva do espaço, uma trajetória limpa para um pulmão sobrecarregado de sangue... De suor... De cansaço...
Quando morta à semente de uma hipocrisia retórica
Quando aberta a cela de uma paixão inóspita
Moramos, de fundos, numa casa a beira do penhasco
E construímos confusos, quintais que pairam sobre a queda...
Abrimos com o peito a fechadura do pensamento.
Abrimos, no leito, as páginas do nosso livro.
Jogamos, nos ventos aleatórios, a nossa sorte alada
Construímos, no passo a passo, a implosão discreta de nossa caminhada...
De nossa história recente...
De nosso céu, ameno, descrente...
De nossa soma... De nossa estrada...