"Tu eras também uma pequena folha que tremia no meu peito. O vento da vida pôs-te ali. A princípio não te vi: não soube que ias comigo, até que as tuas raízes atravessaram o meu peito, se uniram aos fios do meu sangue, falaram pela minha boca, floresceram comigo." Pablo Nereruda
Amor traiçoeiro
E veio, disfarçada e sorrateira,
para ludibriar o que eu sentia.
E veio numa triste noite fria,
antes que eu acendesse a lareira.
E veio como alguém que já sabia,
que eu a esperava a vida inteira.
E veio, num final de sexta-feira,
antes de ouvir cantar a cotovia.
E veio, como fosse a primeira.
E veio, como fosse a mais sincera.
E pôs-se a duvidar de quem eu era.
E pôs-se a duvidar que alguém me queira.
Ela era uma folha, sem valia,
que o vento impôs a mim, à revelia
de tudo o que sonhei, desde criança.
Uma folhinha seca, posta ao vento,
que até hoje me ronda o pensamento,
e ainda que me pese, não me cansa.