"Na alma da maioria dos homens grunhe ainda, baixo e voraz, o focinho do porco." Guerra Junqueiro

Espírito de porco

Há aquele que vive sem esteio,
a fustigar o outro sem motivo,
ou para simplesmente manter vivo
o despreso que tem pelo alheio.

Há aquele que acha tudo feio,
exceto a sua imagem no espelho,
que tenta pôr o mundo de joelho
a mercê do cabresto e do arreio.

Há aquele que usa adjetivos
pra ofender quem pensa diferente,
e que se julga mais inteligente
do que todos os seres inda vivos.

Há aquele que vive, simplesmente,
pra deturpar o que o outro sente
ou para desviá-lo do caminho.

Há aquele sujeito, finalmente,
que se veste pro mundo feito gente,
mas tem tudo de porco, até focinho.