Ventre da vida
 
Minha mãe! Minha querida mãe!
Um dia fomos um
Eu em ti, formando um só corpo contigo
Tu em mim – amor, puro amor.
Um nó de gente
Amarrado para sempre no ventre da vida.
 
Conheci teu rosto quando me deste à luz
E chorei,
porque separavam-me de ti.
Não compreendia que teu amor era muito
E teu ventre já não o [me] continha mais.
[Querias pegar-me no colo
Aconchegar-me em teu peito
Alimentar-me com teu leite
Reconhecer-te em minha face].
 
Chorei,
porque pensava que tinham te roubado de mim
Ou me roubado de ti – eu não sei!
Senti-me órfão e desabrigado
Pois não tinha mais minha mãe, minha casa.
 
Chorei,
Porque o calor do teu corpo
Não me aquecia mais.
Gritava, desesperado,
Tentando entender porque havias deixado
Que fizessem aquilo comigo.
[Mãe... mamãe... me ajuda! Salva-me! Eu te amo tanto!]
 
.....
 
Parei de chorar ao ver-te sorrindo
– eu nunca havia visto um sorriso antes
mas reconheci seu som
pois quando me descobriste dentro de ti
também sorristes, daquele mesmo jeito –
 
....
 
Minha mãe! Minha querida mãe!
Reconheci quem eras
Quando ao primeiro choro
Vi surgir teu rosto à minha frente
E outra vez aquele sorriso!
Senti que éramos um novamente
E a saudade do teu ventre
Bateu em minha porta.
Não hesitei,
abri a porta
deixei-a entrar
Ditou-me, então estes versos
Que agora te entrego.
Deposito-os em teu ventre
Esperando que eles fecundem minhas
[nossas]
Lembranças
Gerando-me em ti outra vez.
 
 
....... [ o tempo passou] .......
 
 
Outra vez me encontro chorando
Mas teu sorriso não mais o vejo.
Permaneces aí, deitada
Com as mãos sobre o ventre que me gerou
E não sorris para mim
– sentirei falta do teu sorriso –
 
[.....]
 
Minha mãe! Minha querida mãe!
Hoje é meu ventre que te acolhe.
Renasces em cada lágrima que dos meus olhos escorrem.
Dou-te colo em cada lembrança revivida.
Alimento-te em cada Eucaristia celebrada.
Cedo meu peito para que te reclines à noite.
Reconheço-te em mim – sou teu filho!