Aldeia global
 
Mais uma lágrima escorre destes olhos
Que vêem crucificarem Jesus outra vez.
O porquê, eu não sei.
 
Oitava maravilha do mundo.
Mandamentos que não são cumpridos.
Impressões digitais adulteradas.
Cinema lotado e ninguém entende a cena.
Eu querendo entender o amor.
Amores e suicídios convivendo.
O silêncio ultrapassando a barreira do som.
Uma luz no fim do túnel – obscuro.
Ciência recriando a vida.
Rosa negra do outro poema
perfumando minhas dores.
Nota musical em baixa freqüência.
Propagandas em raio-lazer.
Marcas de cigarro estampadas na camisa.
Ilusão satisfazendo o desejo.
Vidas com destino marcado – faces desconhecidas.
Portas se abrindo, novos clientes.
Relógio marcando 9 horas.
45º derretendo o asfalto.
 
Um tiro,
Um eco,
Uma vida.
 
O filho que abandona a mãe.
A criança que mora sob a ponte
[porque sua mãe o abandonou – também].
 
Somos nós solidários?
 
Menino carente, sem afeto
Sem comida e sem teto.
Pai de drogado
Família desunida.
Pedras na mão para atirar.
Desejo ardente de maltratar
[a dor que sangra o coração].
 
O mundo não para,
Constante evolução.
Eu paro.
Por quê?
Um tiro,
Um eco,
Uma vida.
 
A criança não teve infância,
Teve que ir lutar a guerra.
Lutar com homens bombas
que não sabem viver.
Amor... Solidariedade... Cadê?
Quando vencem, sorriem
A natureza chora, sem lágrimas.
A noite escura põe medo.
 
Outra bomba explode.
Novos anjos Deus já tem.
E a mãe chora no canto da esquina.
Levaram seu fruto.
Sente-se agora uma estéril.
Logo ela também se vai.
Sabe disso e anseia por isso.
 
E o inesperado acontece:
Um soldado a ajuda a se levantar.
Protege-a como se fosse sua.
Depois, lhe beija apaixonadamente.
Então um velho sábio diz:
A guerra acabará – um dia.
O amor vencerá – um dia.
 
Um tiro,
Um eco,
Uma vida.
 
Adeus...