Cântico de núpcias

Nanquim à mão

A folha ainda branca – pura!
Linhas não fecundadas
Virgens linhas à espera das núpcias
(do leve toque do poeta a lhe acariciar)
 
Cedem gentilmente à sua pena
Deixam-se envolver por seus versos
Declamados nunca antes a ninguém
Entre sussurros e gemidos
Que revelam a alma de seu amante.
 
Como se fosse um ritual
No seu ventre a poesia ganha vida.
O prazer alcança seu êxtase
E o gozo é inevitável.
 
Enamoram-se um do outro
Flertam entre olhares no silêncio:
O nanquim bailando suavemente em curvas alfabéticas
De mãos dadas com seu par [poético].
Sobre o tablado branco
O tracejar das linhas
[em ritmo dançante]

A transformar-se em berço para este poema.
 
.....
 
As linhas acima, não mais castas como antes
Gestam botões a se abrirem em flor
                                                       [olhos do leitor].
As linhas abaixo, ainda imaculadas como sempre
Inebriam-se c’os poemas exalados
                                                       [olhos fecundados].