TÍTULO
Se ensina a matemática do cotidiano
Mas não se ensina a sociologia da cobrança
Manda quem pode
Obedece quem não tem opção
Ninguém quer ser pregado na Cruz
O medo da mudança
O medo de se sentir abalado
O medo de perder a propriedade
Nos faz nos sentirmos baratas
Somos estranhos no meio de estranhos
Só nos olham de revés
Esses lunáticos transeuntes das avenidas
O medo de ser barata repugnante
Nos faz pensar em suicídio coletivo
Mas somos baratas, lindas e amorosas
Somos baratas egoístas
Não queremos repartir nossos bens
Já fomos provocados toda a vida
Nos tiraram o leite bom, a comida boa
Nos tiraram a saúde (que virou comércio, aliás)
Nos tiraram os filhos que morreram de fome
Deixaram-nos sem livros e nus
E se desfilamos na rua de cabeça erguida
Como baratas, nos dizem
“por que estão vós com o rei na barriga?“