TÍTULO

Se ensina a matemática do cotidiano

Mas não se ensina a sociologia da cobrança

Manda quem pode

Obedece quem não tem opção

Ninguém quer ser pregado na Cruz

O medo da mudança

O medo de se sentir abalado

O medo de perder a propriedade

Nos faz nos sentirmos baratas

Somos estranhos no meio de estranhos

Só nos olham de revés

Esses lunáticos transeuntes das avenidas

O medo de ser barata repugnante

Nos faz pensar em suicídio coletivo

Mas somos baratas, lindas e amorosas

Somos baratas egoístas

Não queremos repartir nossos bens

Já fomos provocados toda a vida

Nos tiraram o leite bom, a comida boa

Nos tiraram a saúde (que virou comércio, aliás)

Nos tiraram os filhos que morreram de fome

Deixaram-nos sem livros e nus

E se desfilamos na rua de cabeça erguida

Como baratas, nos dizem

“por que estão vós com o rei na barriga?“

Audsandro do Nascimento Oliveira
Enviado por Audsandro do Nascimento Oliveira em 06/05/2020
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