Regresso
A pedra rolou novamente.
Quem carregará dessa vez?
No seu movimento de volta,
deixou corpos pelo caminho.
Negros, brancos, ricos e pobres,
gordos, magros, mulheres e homens,
crianças, jovens, adultos e velhos.
Agora são contas numéricas.
Sonho da escritora,
ensino da professora,
abraço da mãe,
carinho do pai,
aperto de mão do amigo,
alegria da médica,
sorriso do palhaço,
roda na mesa do bar,
jantar no final de semana,
parabéns na data especial,
o diploma no fim do semestre,
a escritura da casa própria,
a viagem do fim de semana,
as férias do meio do ano...
Tudo ficou para trás,
perdido no longo tempo.
E o que temos feito com isso?
O vizinho sem comer,
a criança sem estudar,
as pessoas sem lazer,
chamadas a se reinventar.
A moça, que têm um nome,
apanhando do homem.
A criança exposta ao perigo.
A pessoa idosa explorada,
e a empregada não notada.
A moradora de rua no frio.
E nós chamados a carregar,
subir com a pedra,
para o pico do cume.
Como carregaremos esse fardo?
De mãos dadas no isolamento,
Ou isolados como sempre fizemos?
Fraquejar enquanto humanidade?
Quem se deu o tempo,
de refletir sobre essa parte?
Temos tanto tempo,
que nem usar sabemos.
Mas quem têm todo esse tempo?
Estão tentando subir.
um empurra mais para a direita,
outro faz pressão para a esquerda,
uns já desistiram,
outros, sozinhos, empurram na linha reta.
Quem estará certo, ou certa?
Fome, frio, cede, medo,
pânico, drama, aperto, receio.
Esperança, alegria, confiança,
sorriso, solidariedade, perseverança.
Como nos moveremos?
Esse trabalho intermitente,
de fazer viver a humanidade.